Cla¡udia Kimie Suemoto diz que em 35% dos casos capacidades cognitivas foram reduzidas por problemas vasculares
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Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina (FM) da USP indica que uma parcela significativa dos casos de demaªncia diagnosticados no Brasil poderia ser evitada com o controle de doenças crônicas como hipertensão e obesidade. O que chamou a atenção dos pesquisadores foi que a proporção de demaªncia do tipo vascular émaior no Brasil do que em outrospaíses.Â
O estudo foi possível graças ao banco de encanãfalos da faculdade, que conta com cerca de 1100 pea§as usadas como objeto de pesquisa. Foram analisados cérebros de pacientes mortos e com mais de 50 anos, e um tera§o dos órgãos estudados apresentavam algum tipo de problema vascular, o que evidencia esse quadro como fator que leva a doena§a. “Dentre os cérebros estudados, o Alzheimer foi a principal causa do desenvolvimento da demaªncia, mas constatamos que 35% dos demais tiveram suas capacidades cognitivas reduzidas por conta de problemas vasculares, como derramesâ€, aponta Cla¡udia.
Dessa forma, muitos dos casos poderiam ser evitados se tivessem ocorrido tratamentos preventivos contra hipertensão, diabete e atéobesidade. A professora explica que “a demaªncia éuma sandrome cujos sintomas mais conhecidos são perda de memória e alterações cognitivas, identificadas por meio da dificuldade na linguagem e também ao planejar ações no cotidiano. O tipo vascular da doença écausado por pequenos derrames ao longo da vida do paciente, e por isso a prevenção deve comea§ar logo aos 30, 40, 50 anos, procurando controlar e cuidar dos fatores de risco antes que a pressão alta ou o excesso de peso, por exemplo, possam levar a consequaªncias mais graves. A partir do momento em que são notados esses problemas, énecessa¡rio buscar acompanhamento médico, que ajudara¡ o indivaduo no processo de perda de peso, controle do sal e na adoção de quaisquer outras medidas terapaªuticas necessa¡riasâ€.
“Dentre os cérebros estudados, o Alzheimer foi a principal causa do desenvolvimento da demaªncia, mas constatamos que 35% dos demais tiveram suas capacidades cognitivas reduzidas por conta de problemas vasculares, como derramesâ€.
Cla¡udia Kimie Suemoto
Embora seja muito comum no mundo todo, a demaªncia não tem cura. Os avanços cientaficos no controle da progressão da doença são lentos, mas os estudos a esse respeito são recorrentes. A pesquisadora diz que “existe muito investimento na busca de novas drogas que pudessem auxiliar no tratamento, mas os resultados não vão sendo muito otimistas. O último medicamento aprovado e disponibilizado aos pacientes entrou no mercado há14 anos, e seus benefacios podem ser considerados marginais, apenas. Por isso a prevenção éa melhor forma de combater a verdadeira epidemia de demaªncia que vivemos hojeâ€.
Ao ano, são registrados dois milhões de casos de demaªncia no Brasil, e esses casos são comuns especialmente empaíses em desenvolvimento. Dois trabalhos publicados recentemente, também realizados por pesquisadores da FM, ajudam a entender esse número elevado por meio da comprovação da relação entre educação e saúde cerebral. “Foi comprovado que os pacientes com grau de escolaridade maior possuem menores chances de desenvolver demaªncia. O diferencial do Brasil nessa análise éque, enquanto outrospaíses apresentam uma população que passa cerca de 12 anos estudando, a média do nossopaís éde apenas quatro anosâ€, alerta Cla¡udia. Ela também ressalta que “trabalhos cognitivamente estimulantes diminuem a chance do aparecimento da sandrome porque isso cria reservas de neura´nios, que são desgastados naturalmente ao longo dos anos. Quem estudou mais cria mais conexões entre neura´nios em seu sistema nervoso e, portanto, não demonstra tanto os sintomas de demaªnciaâ€. Nas teses também se comprova que a ocupação profissional não étão eficaz na criação de conexões neurais quanto a educação em si.
Nesse sentido, a professora retoma alguns dos fatores fundamentais para o combate da epidemia brasileira de demaªncia: “precisamos melhorar a educação, obviamente, e também garantir efetivamente o acesso da população aos servia§os de saúde, para que todos possam tratar os fatores de risco logo quando apareceremâ€. Os alertas são destinados principalmente a pessoas de meia-idade, que devem prevenir e tratar doenças cardiovasculares.